Chris Nel e Neels Engelbrecht são surfistas anónimos que se tornaram conhecidos de um momento para o outro. E não foi pelos seus estranhos nomes de ascendência boer, pelas suas habilidades em cima de uma prancha, ou por terem feito o drop do século numa onda mutante: foi porque sofreram um inédito ataque de uma foca, que quase lhes custou a vida.
Segundo adianta o AllAfrica.com, na altura do ataque os dois estavam a surfar na remota zona de Cape Cross, na Costa dos Esqueletos, em pleno deserto namibiano. Um palco que ficou conhecido recentemente pelos media de surf internacionais pelos seus intermináveis pointbreaks de esquerdas…e agora, pelos vistos, pelos encontros imediatos a evitar.
Os dois surfistas foram atacados por uma foca adulta fêmea em pleno line-up, a cerca de seiscentos metros da costa. De um momento para o outro, Chris ouviu o seu amigo Nells a gritar e quando olhou para ele viu uma imagem inconcebível: uma foca segurava-o pela cabeça.“Remei rapidamente para o pé dele e percebi que a foca o atacava furiosamente,' testemunhou Chris.
Nells, nesse momento, gritava para o amigo que não aguentava mais, mal conseguindo respirar, enquanto a foca não parava de o atacar, arrancando parte da sua orelha, mordendo-o na cabeça, braços e pernas. “Eu estava cansado e com dores e a foca não parava de me atacar,” declarou enquanto relembrava o sucedido já no conforto possível numa cama de um hospital.
Estupefacto, Chris tentou defender o amigo atacando a foca com o bico da sua prancha. Esta, segundo relatou o surfista, olhou-o nos olhos, largou o amigo e escolheu um novo alvo: ele próprio, mordendo-o na cabeça, nas costas e os braços.
Em plena agonia de dor e sufoco de pânico, os dois surfistas tentaram regressar à costa, contra uma castigadora corrente – o que é normal naquela zona por onde flúi a corrente fria de Benguela - tendo sido perseguidos até terra pela foca furiosa.
Ambos conseguiram chegar ao parque de estacionamento e regressaram a Swakopmund, a localidade mais próxima, a 130 km do local do ocorrido, com Chris a conduzir com apenas uma mão. Ali foram assistidos no hospital local, dividindo, entre os dois, centenas de pontos.
Seguir-se-ia depois mais um longo e agonioso período de espera, já que os dois precisavam de levar a vacina contra a raiva, cujo stock terminara no hospital de Swakopmund. Sendo assim, um familiar teve que trazer de outra localidade a providencial vacina, que foi administrada horas depois, salvando os surfistas de mais complicações.
Os dois surfistas contam com mais de 25 anos de experiência de surf, nos quais se contam várias surfadas entre focas. Esta foi a primeira vez que se ouviu falar de um ataque de focas a surfistas na região e no mundo. Este mamífero é carnívoro, alimentando-se sobretudo de peixes e moluscos marinhos.
Esta zona é conhecida por Costa dos Esqueletos pelos destroços de navio nas suas dunas e pelas ossadas de baleia e focas que se estendem ao longo das praias por mais de mil quilómetros de costa.
A Corrente de Benguela causa, para além das correntes fortes e muito perigosas na região – são águas profundas a fluir em baixas superfícies - um fenómeno de nevoeiro denso que acrescenta um clima ainda mais fantasmagórica a esta remota localização.
Especialistas dizem que não há explicação possível para este ataque, embora se possa atribui-lo a uma desordem da foca devido ao autêntico massacre que ocorre sempre na região durante o período da caça à foca e cujo período terminou no passado dia 15 de Novembro.
Veja a onda surfada por Cory Lopez no Pico:
http://www.youtube.com/watch?v=UomjoLUieyk
fonte: revista Surf Portugal
